segunda-feira, 25 de abril de 2011

P556 - ELALAB , TERRAS DO FIM DO MUNDO

Se há uma tabanca de que se possa afirmar que fica no fim do mundo, essa tabanca chama-se Elalab.
 
Uma amostra do caminho
Caminhar a pé com água doce ou salgada.
É um caminho/dique separador de águas
De um lado água doce. Do outro o tarrafo de um braço do Rio Cacheu.
O nosso amigo Pepito conhece o caminho como ninguém.
Para entender o seu isolamento teremos de voltar aos tempos em que os portugueses, tal como os outros povos europeus, varriam a costa de África na caça aos escravos. Na primeira fase dessa vergonhosa actividade, os escravos eram trazidos para a Europa. Só posteriormente se dinamizou o mercado de escravos para a América do Sul e América Latina.
Ainda na primeira fase, os povos autóctones mais fortes, como os Mandingas que procuravam dominar os mais fracos, entre os quais os Felupes, para vender os seus membros aos esclavagistas brancos. Os Felupes, para se defenderem dos seus adversários procuravam instalar-se em terras de difícil acesso, construíam as suas habitações com refúgios típicos de onde podiam ver o adversário e atacá-lo com as suas setas envenenadas.
Ficou-lhes na massa do sangue como soe dizer-se. Ainda hoje, os Felupes constroem as suas tabancas em lugares de acesso difícil. Elalab é um testemunho bem real.
Uma morança com o posto de vigia no vértice superior.
Outro tipo de morança fortificada, com pequenas janelas e portas muito baixas e apertadas
Para se chegar a esta terra de gentes tão simpáticas e acolhedoras, torna-se necessário ter um bom jeep com tracção às quatro rodas e potente motor. Mais que isso, exige-se um bom condutor e conhecedor do caminho. O nosso condutor, o Pepito, apesar de conhecer o caminho como ninguém, pois foi ele que o descobriu, atascou duas vezes na ida.
São três quartos de hora a rodar em autêntico deserto, de areias soltas, em rali, talvez comparavel ao Paris-Dakar em ponto pequeno. Mesmo assim que aventura!  
Eu que já andei um dia inteiro nas areias do deserto da Mauritânia, digo que não tem comparação, dado que o atolamento, devido ao tipo das areias, é uma constante.
Encontra-se uma tabanca no fim da aventura a quatro rodas, para se iniciar nova aventura a dar ao pé por caminhos feitos nos diques que separam as lagoas/rios de água doce, dos braços de água salgado do rio Cacheu. Por fim, aparece Elalab, rodeada de água doce ou salgada por todos os lados menos por um, o tal dique que nos permitiu lá chegar, com dezenas de crianças a correr ao nosso encontro.
A caminho da escola
As crianças 
O Pepito na escola, o homem que é adorado por aquela gente  e muitas outras gentes da Guiné-Bissau
 

O Pepito a explicar aos homens grandes, a razão da nossa presença ali.
 
Em roda, homens, jovens (rapazes), raparigas e as mulheres, por esta ordem, em circulo para nos ouvirem

Tem escola e dedicados professores, tem poços de água, tem muito peixe, têm uma Igreja católica e são praticantes fervorosos, segundo me disseram. Pode dizer-se que as suas gentes não passam fome. Mas, se alguém fica doente, não há médico que lá chegue e… tirar de lá o doente para o levar a um hospital, terá de sair de canoa…
As mulheres grávidas sabem qual é o seu destino e os riscos que correm. Parir ali no mato, sem o mínimo dos mínimos exigíveis, o que tem provocado a morte de muitas mulheres por infecções, bem como bebés. Conscientes da realidade, foram pedir à AD para construir um espaço com o mínimo de condições higiénicas a que chamam Centro Materno Infantil.
Na impossibilidade da Tabanca Pequena apoiar financeiramente o empreendimento a AD voltou-se para a nossa congénere alemã Tabanka, que parece ter-se disponibilizado para financiar a construção.
Da Tabanca Pequena ficam à espera que se comprometa a fornecer os acessórios, como a marquesa, camas de repouso e consumíveis de higienização e apoio às parturientes.
Por outro lado, sentimos que é urgente dotar a Tabanca com um barco para transporte de pessoas até Susana. A acidentada viagem de cerca de duas horas, por terra, resume-se a cerca de um quarto de hora por via marítima. Para além disso, numa terra rodeada de água, um barco faz muito jeito para o transporte de mercadorias, como por exemplo a palha de capim para cobrir as moranças, que vão buscar aos capinzais afastados da tabanca, do outro lado do rio.
Creio que estamos em condições de, em parceria com a AD, mais uma vez contribuir para a felicidade deste povo, oferecendo o barco que custa de 1.500.00 €, comprometendo-se a AD a fornecer o respectivo motor.
Mais um desafio à Tabanca Pequena. Saberemos ultrapassá-lo como o costume com a colaboração dos nossos associados e amigos.

Zé Teixeira

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